Francisco Bernabeu tem ampla experiência na promoção de projetos inovadores focados na Indústria 4.0 e na IoT (Internet das Coisas). Atualmente, ele atua em três frentes principais para oferecer a tecnologia como uma oportunidade para diferentes organizações: segurança cibernética, integrações para a Indústria 4.0 e soluções tecnológicas para a transformação digital de empresas e administrações.
A Bernabeu está trabalhando em um projeto para uma das principais empresas de água do mundo, Sabesp. A empresa opera no estado de São Paulo em 368 municípios, atendendo a aproximadamente 27 milhões de pessoas, fornecendo 98% de água tratada e 75% de águas residuais coletadas e tratadas. A meta da empresa, que comemora seu 50º aniversário este ano, é universalizar o saneamento nos municípios operados e nos novos municípios com 100% de água tratada e 95% de águas residuais coletadas e tratadas até 2030.
Qual é a avaliação e a visão que o senhor tem da situação do saneamento e do abastecimento no Brasil?
Preocupante devido a possíveis mudanças no marco regulatório e no desempenho da Agência Nacional de Águas (ANA), uma vez que a privatização do saneamento não atinge a velocidade adequada para cumprir as metas de universalização.
A água é um bem finito e as projeções de crescimento da demanda do consumidor sugerem que ela aumentará constantemente. O setor está tecnologicamente preparado para lidar com isso?
As empresas de saneamento ainda estão em um processo evolutivo em relação aos conceitos de automação e medição individualizada, mas estão conduzindo projetos que buscam acelerar a transformação digital dos processos operacionais por meio de tecnologias disruptivas e de valor agregado.
Quais são os benefícios da implementação de soluções integradas de automação, telemetria e análise em uma rede de suprimentos?
São vários os benefícios, mas eu destacaria a gestão eficaz da operação, a garantia da qualidade, a eficiência energética, a redução de perdas, o controle efetivo das perdas na rede de água e no cliente e/ou consumidor, a agilidade na solução de problemas em caso de falta de abastecimento, incidentes na rede, a melhoria da satisfação do cliente e da imagem da empresa.
Com base em sua experiência e envolvimento com a empresa, o que o senhor diria que são os principais objetivos da Sabesp?
Os principais desafios seriam a universalização e a abordagem do marco legal do saneamento. Não há dúvida de que o uso da tecnologia é um aspecto fundamental e um diferencial competitivo para uma excelente gestão do ciclo da água.
As empresas de saneamento estão conduzindo projetos que buscam acelerar a transformação digital dos processos operacionais por meio de tecnologias disruptivas e de valor agregado.
A Sabesp assumiu um compromisso com o futuro dos cidadãos de São Paulo ao incorporar a Elliot Water em sua gestão. Como o senhor identificou a necessidade de implementar uma rede inteligente?
A solução foi implementada para a saneamento inteligente (saneamento 4.0) na Unidade de Negócio Capivari / Jundiaí, que atende 13 municípios e abastece mais de 400 mil pessoas. Essa implantação foi necessária para melhorar a gestão do ciclo integral da água, em todas as suas etapas no processo de transformação da água bruta em água tratada; a reservação para o abastecimento e a distribuição. Assim, por meio dos sensores distribuídos na rede dessa cadeia produtiva, obteve-se uma melhoria nos serviços operacionais, na redução das perdas de água, na eficiência energética e na satisfação dos clientes.
Como a gestão da água mudou desde a implementação dessa solução tecnológica?
Hoje, a solução implementada tornou-se referência na Sabesp, que pretende estendê-la a todas as suas unidades de negócios nos próximos cinco anos.
Está claro que a empresa promove a sustentabilidade como uma de suas áreas estratégicas. Nesse sentido, por que o senhor diria a outra organização que é necessário investir na digitalização da água?
Cada vez mais, as soluções desenvolvidas para saneamento básico exigem que a Tecnologia da Informação seja parte integrante e complementar, permitindo que a empresa permaneça competitiva no mercado e atenda às exigências dos órgãos reguladores e das prefeituras.
Por meio de sensores distribuídos por toda a rede de água, a Elliot Water possibilitou a melhoria dos serviços operacionais, a redução de vazamentos, a eficiência energética e a satisfação do cliente.
Que desafios o setor enfrenta em relação à aplicação de tecnologia para o gerenciamento do ciclo completo da água?
Os principais desafios são, sem dúvida, a falta de investimento e de processos operacionais; equipamentos obsoletos, falta de conectividade, desempenho desagregado entre Tecnologia da Informação (TI) e Tecnologia Operacional (TO), falta de padrões e normas específicas para o setor de saneamento e padronização de soluções de automação.
Como o senhor vê o gerenciamento do ciclo completo da água a partir de uma perspectiva digital no futuro de médio prazo?
Vejo que os investimentos em soluções automatizadas para medição de consumo, automação no tratamento de água e esgoto e telemetria nas redes serão impulsionados em todas as empresas de saneamento como forma de atender aos requisitos estabelecidos pelos órgãos reguladores, como o marco regulatório do saneamento, bem como as demandas dos municípios, pelos serviços prestados, pela disponibilidade e qualidade da água para a população.